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“A GRANDE GRIPE” – Um artigo legal sobre a maior pandemia de todos os tempos

Por Dr. Dorian Domingues – Pediatra da Clínica da Criança e do Adolescente

COVID-21?

O ano é 1918. O cenário é global.

A (primeira) Grande Guerra acabara. A Europa em escombros pacificada e iniciando sua reconstrução, os EUA em crescimento e oferecendo ajuda econômica e o Terceiro Mundo rico em recursos naturais e exótico como sempre, cheinho de matérias primas. Tudo para ensejar um mundo perfeito para todos. Mas… Faltou combinar com os vírus.

O que a humanidade não sabia era que o vaivém da guerra circularia uma variante do tradicional vírus influenza, que infectaria literalmente todo o mundo e mataria no mínimo entre 50 e 100 milhões de pessoas (à época não existia computador, e muitos registros com certeza se perderam). Essa doença entrou para a história como a pandemia mais fatal de todos os tempos (até agora): a gripe espanhola. Só lembrando: à época a população mundial era aproximadamente 1/3 da atual. Ou seja, proporcionalmente, a mortalidade era muito maior!

O nome não tem nada a ver com a origem (sobre a qual há dúvidas), a Espanha foi apenas o primeiro país a divulgar em alto e bom tom a pandemia. Sem querer geograficar a doença, os primeiros casos foram nos EUA (Kansas) e os primeiros óbitos idem (Philadelphia).

Daí não importa se o vírus é chinês, japonês, italiano, americano, australiano. O vírus é O Vírus.

A doença que devorou a humanidade se iniciou e teve seu maior pico em 1918 (mais da metade dos casos) e findou em 1920, após supostamente termos atingido a imunidade de rebanho (e a que preço!) ou o vírus ter sofrido uma mutação e ficado mais brando. E as pessoas enfim puderam retornar à vida normal e respirar aliviadas. Mas foram dois anos de muita dor e mortes.

Detalhe cruel, mas importante: a variante do vírus de 1918 gostava de pessoas jovens. Estima-se que 8 a 10% dos adultos jovens da época foram mortos pela doença, o que se chamou de “dupla mortalidade”, considerando-se não só o lado pessoal mas também demográfico da Coisa.

Jabuticaba brasileira: por aqui, a Pandemia interrompeu sua marcha no final do ano de 1918 às custas de milhares de óbitos e apesar da ausência de uma política epidemiológica e pública de enfrentamento. A doença retrocedeu, e a mortalidade subitamente cessou. Ufa, fim do filme, a minha vida de volta! Daí…

Dizem que o Carnaval de 1919 foi um dos mais animados de todos os tempos, seguido de um novo boom de natalidade nove meses após, resultado da comemoração e a consequente pegação generalizada. Mas a ressaca ainda se arrastou pelo mundo até 1920, com uma severa segunda leva de mortalidade.

Durante esses tempos sombrios os cadáveres sobravam sem covas pelas ruas (qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência, é repetição). Hoje o mesmo ritual tétrico de pessoas agonizantes tossindo sangue e ficando roxas entre seus delirantes espasmos febris e queixas de dor se repete, como se o tempo não tivesse passado. Mas passou.

Minha falecida avó presenciou esse tempo e relatava os féretros pelas ruas da cidade.

Há um século atrás a humanidade se virou como pôde e sem informações precisas para conter a pandemia de gripe espanhola e felizmente sobrevivemos. Não faz sentido nos privamos de ferramentas agora.

A Pandemia está aí, e informação é o que não falta. Vamos deixar a COVID em 2019. Senão, ela vira COVID 2020, COVID 2021…

Em tempo: o coronavírus NÃO É um vírus influenza igual ao da gripe, e esse não é um texto sobre nenhuma gripezinha, é só um exemplo histórico de uma devastação por uma pandemia.

A História não se repete como drama, mas como farsa. Ou seja: saber sobre o Passado nos permite avaliar o Presente e escolher melhor o Futuro.

Minha falecida avó viveu até os 92 anos. Espero que a sua também conquiste essa marca.

Um dia seremos História. De uma forma ou de outra.

Clínica da Criança e do Adolescente, cuidando da saúde da sua família desde 1996.

As fontes desse texto são:

A GRANDE GRIPE (JOHN M. BARRY) – premiado pela Academia Nacional de Ciências dos EUA  e considerado oficialmente o livro referência  do país sobre a pandemia; Editora Intrínseca.

1929: a quebra da bolsa de NY (Ivan Sant’Anna) Inversa Publicações.

Violeta Hargreaves Ribeiro (1905-1997, minha avó), edição infelizmente esgotada.